Eu fui o arrematante deste Casco aos 12 de Março de 2021, por procuração, pela Sok – TURQUIA, porém, por desmerecerem os meus conselhos e inúmeras dores-de-cabeça as quais tive desde 2019 quando a MSK procurou-me para começar os preparativos para participar do leilão.

Azevedo Cormack diz que alertou a empresa turca:

Após vencer o leilão, solicitei à SOK para fazer com uma empresa internacional uma vistoria adequada e minuciosa sobre o amianto que poderia ter a bordo, mas, a SOK nunca quis ouvir-me e quando neguei-me em seguida ser o exportador do casco por não cumprirem com o meu conselho de fazerem a tal inspecção, fui obrigado a colocar um advogado especialista em questões marítima e ambiental, e não um qualquer advogado.

Como se vê, a negligência foi dos dois lados: do Brasil e da Turquia.

4 de agosto de 2022, o início da saga do navio fantasma

Seja como for, em 4 de agosto, rebocado (pelo rebocador holandês ALP CENTER), o São Paulo iniciou o que viria a ser sua última jornada, uma longa viagem de seis mil milhas até a Turquia. Acontece que a sucata cancerígena foi monitorada pelo Greenpeace que sabia que o Brasil estava vendendo veneno para os turcos. E avisou o governo daquele país.

Assim, em 26 de agosto, às portas do Estreito de Gibraltar, o governo turco informou que não o receberia. Sem outra solução, o rebocador deu uma volta de 180º e iniciou o retorno ao Brasil.

O vexame internacional

Por causa disso, a consultora e Engenheira de segurança do trabalho, Fernanda Giannasi, declarou ao site redebrasilatual.com.br ser este um “vexame internacional em que estamos metidos com a proibição do governo turco do porta-aviões São Paulo, exportado de forma irregular para desmanche.”

Segundo a ONG shipbreakingplatform.org‘o São Paulo tinha 760 toneladas de amianto. Enquanto isso, o relatório encomendado pelo governo brasileiro à empresa Grieg Green (cujo site apregoa serviços genuinamente verdes para a indústria marítima) estimou em pouco menos de 10 toneladas’. 

E Fernanda Giannasi acrescentou: “Atestado da mais alta incompetência e irresponsabilidade dos órgãos ambientais do (DES)governo brasileiro.” (Grafia original da engenheira).

Todo mundo sabia disso. Menos, aparentemente, o Ibama atual. O órgão deu autorização à venda da sucata cancerígena para, 6 mil milhas depois, voltar atrás.

Envolvidos na pantomima se calam

De acordo com matéria de Lucas Altino, em O Globo (9/9/2022) ‘Após um mês de reviravoltas judiciais, protestos, e proibições internacionais, o porta-aviões São Paulo está, enfim, a caminho de volta ao Rio.’

‘No final de agosto, o governo da Turquia, que seria o destino da embarcação, vendida pela Marinha por R$10,6 milhões, cancelou a autorização para a importação, por causa da preocupação com a quantidade de amianto, material tóxico e cancerígeno, a bordo.’

‘Com isso, o Ibama também suspendeu sua autorização de exportação e comunicou que o porta-aviões deveria retornar ao Brasil.’

‘Procurados, diz a matéria, a Marinha, a Capitania dos Portos e o Ibama ainda não se manifestaram. Mas advogados que acompanham o imbróglio afirmam que a Ocean Prime, empresa contratada pela Sok para fazer a exportação, solicitou à Capitania dos Portos a autorização para o atracamento na Baía de Guanabara no dia 2 de outubro. A Ocean Prime também não respondeu à reportagem, mas há duas semanas ela informou que estava ciente da ordem do retorno.’

Por que será que agora ninguém fala, vergonha?

Novo retorno do navio fantasma

Enquanto a burocracia dava voltas, o comboio também foi obrigado a fazê-lo. Quando o navio estava na altura do Espírito Santo, em direção ao Rio de Janeiro, recebeu uma ordem para dar nova meia volta, e rumar para o porto de Suape, em Pernambuco.


Segundo o Uol, em matéria de Jorge de Souza, a Marinha do Brasil teria proibido a atracação do navio no Rio de Janeiro onde sempre esteve durante os anos de férias no País: ‘Quando o lento comboio já estava quase chegando de volta ao Rio de Janeiro, uma ordem do órgão máximo da navegação brasileira determinou que ele desse novamente meia volta, e subisse, uma vez mais, a costa brasileira, até o porto de Suape, no litoral de Pernambuco, a mais de 1.500 quilômetros de distância.’

O navio chegou a Suape em 5 de outubro. E foi recusada a sua atracação pela Agência Estadual de Meio Ambiente do Estado. Durante estes dois meses vagou de um lado para outro do Atlântico como uma espécie de ser pestilento de que ninguém quer chegar perto. O São Paulo está ancorado, quer dizer, o rebocador e sua presa, ao largo, à espera de uma solução.

Ao que parece, o motivo de sua parada em Pernambuco deve-se à necessidade de uma vistoria pela MB para se certificar das condições de navegabilidade (?!).

Segundo o shipbreakingplatform.org ‘A oposição contra a exportação também se manifestou em grandes protestos de rua em Aliağa, Izmir e em outros lugares da Turquia. Além disso, o território britânico de Gibraltar havia declarado que proibiria a passagem do navio por suas águas territoriais antes da decisão da Turquia.’

Marinha do Brasil se manifesta em 6 de outubro

Enquanto isso, a Marinha do Brasil finalmente se manifestou. Em nota publicada em 6 de outubro, diz: ‘Outra medida adotada pela MB foi fazer constar em Edital exigências que obrigam o atual proprietário do casco a cumprir normas internacionais, dentre as quais: o cumprimento da Convenção de Basileia sobre o Controle de Movimentos Transfronteiriços de Resíduos Perigosos e seu Depósito (1989); e a apresentação de Inventário de Materiais Perigosos (IHM), auditado por testes de laboratório credenciado e aprovado por Sociedade Classificadora independente, com base nas Resoluções da Organização Marítima Internacional (IMO).’

A MB diz ainda que ‘enquanto pertencia à Marinha Nacional Francesa (MNF), realizou, na década de 1990, uma ampla desamiantação dos compartimentos da propulsão, catapulta, máquinas-auxiliares e diesel geradores, culminando com a retirada de aproximadamente 55 toneladas de amianto. Adicionalmente, é relevante mencionar, que o amianto atualmente existente no ex-NAe São Paulo não oferece riscos à saúde, no estado em que se encontra.